30 abril 2014

Capítulo 8 - Bianca


 


15 de março de 2013, 21h58


Abro os meus olhos. Minha visão está embaçada. Vejo um quarto branco e agulhas em meu braço. Eu estou tomando soro.


André está ao meu lado.

-      O que aconteceu?

-      Você sabia que estava grávida? Não me falou nada? Eu deveria deixar você aqui sozinha!

-      Do que está falando? Quem está grávida?

-      Não se faça de ingênua. O médico disse que você abortou. Queria ter um filho meu só para ficar comigo… É isso?

Estou me sentindo um lixo neste momento. Eu não sabia que estava grávida, e mesmo que estivesse, aquela reação do André não era justa. Estávamos juntos havia um bom tempo.

Não respondo nada. Apenas choro.

Ele sai revoltado pela porta do quarto e não volta mais.

Recebo alta dois dias depois e vou para a casa da minha mãe.

André não vem me visitar. Ela, cuidadosamente, faz sopa de ervilha e me dá para tomar.

Me deixou de repouso por cinco dias. Sempre levando alimento na cama.

O cuidado dela comigo, é fora de série. Percebo que em nenhum momento me fala do seu Deus, mas sinto falta.

Meu pai toda hora vai ao meu quarto. Compra doces e me presenteia com eles.

Entro em depressão. Falo somente o necessário com minha mãe e meu pai. Estou deixando de atender ao telefone, de assistir televisão, estou deixando de viver.

Um mês se passa e nada muda dentro de mim. Até que o silêncio de minha mãe é quebrado.

Ela levanta bem mais cedo do que o de costume. Arruma-se e vai até o meu quarto. Faz-me levantar e, sem dizer aonde vamos, coloca roupas limpas em mim. Penteia meus cabelos azuis e põe um pouco de perfume em meu pescoço.

Não falo nada. Eu não tenho forças para falar nada.

Entramos no carro e meus pais me levam para a igreja.

-      Não acredito que me trouxeram aqui. O que vou fazer aqui nesse lugar?

O homem, naquele lugar, diz para olharmos para o que está escrito na parede. E fala, fala, fala. E me irrita, me irrita, me irrita.

Eu quero o André.

No segundo domingo, é a mesma coisa. Eu já estou ficando cansada de ter que obedecer a minha mãe. Mais uma vez aquele homem fala e eu não ouço e nem entendo nada. Acho tudo sem vida, quero voltar a viver. Tenho raiva daquele homem falando o tempo todo para aceitar o Deus dele.

No terceiro domingo, resolvo levantar sozinha e me arrumar. Minha mãe fica imensamente feliz.

Eu fico com imensa raiva. Faço isso para ela parar de empurrar esse Deus para mim. Meu Deus é o André, é ele que quero. quando eu tiver bem velhinha posso até querer virar crente, mas agora eu sou jovem e meu corpo é forte.

Será que ninguém entende que eu quero curtir? Será que terei que ir todo domingo nessa maldita igreja?

Lembro-me que foi cantando uma música que dizia que hoje era dia da minha escolha, vida ou morte, o que eu iria aceitar…

Eu aceito a vida, vida com o André, a minha vida. Quero ela de volta! Quero o André de volta!

Continua...
Beijo doce <3
Roberta

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