Por volta das 11h da manhã, voltamos para casa. Uma maravilhosa e suculenta macarronada está nos esperando. Minha mãe sempre foi muito prendada. Deixa tudo preparado no sábado à noite. Assim, no domingo, já está tudo cronometrado.
Sentamos à mesa e nos deliciamos.
Eu permaneço sentada no meu velho e bom sofá vermelho na sala. Já é tarde quando a campainha toca. É o entregador de flores. Minha mãe atende e me traz um ramalhete de rosas colombianas vermelhas. Lindas e perfumadas. Há um bilhete. Peço que leia para mim.
Com toda sutileza, tira do envelope o papel amarelo escrito com letra tremida.
- É do André. Quer que eu leia?
- Sim, pode ler.
Ela fala em tom baixo e com tristeza.
“Peço que me perdoe, eu estava nervoso. Volta pra mim?”
- Séeeerio que tá escrito isso?, Me dá esse bilhete AGORA! Pega o telefone mãe, anda logo, vou ligar para ele!
- Você está seguindo o seu caminho, minha filha. A decisão é somente sua.
Não ouço uma palavra da minha mãe. Quero o André de volta.
Voltamos naquele mesmo dia. Deixei o repouso e voltei para as baladas com ele e meus amigos. Dou minha vida por ele.
8 de julho de 2013, 04h00
- No dia em que você perdeu a criança, disse que se voltaria para o Homem de Branco, mas nem se lembrou dEle quando saiu do hospital (gargalhadas).
Novamente, eles me fazem lembrar de tudo nitidamente.
As pessoas ficam desesperadas e gritando a todo o momento. Não existe nenhum segundo de paz. Todo momento, todo lugar existe pânico.
O pedido de socorro, o lamento… Novamente o desespero….
Vermes, bichos, entram nas pessoas.
Eles querem me jogar em um lugar preparado para aqueles que um dia serviram ao Homem de Branco. Dizem que é o nosso galardão… Lá estão muitos que já pregaram o evangelho, que fizeram seus votos, que um dia pensou ser da luz.
- No domingo, você teve a decisão de tomar o caminho certo, mas não deixamos. Você sempre fez a nossa vontade.
O bafo de podre deles me fazia vomitar. O calor é tão grande que é impossível respirar. Sinto muitas dores…imagine isso por bilhões e trilhões de anos!!!!!
Acho que não vou conseguir sair daqui, não acho nenhuma saída. Os demônios estão por todo lado. São bichos horrorosos, escabrosos, fedorentos, dá muito nojo chegar perto deles. Eles batem nas pessoas, atormentam-nas o tempo todo, não existe paz… Nem por um milésimo de segundo existe paz…
Minha boca está seca, parece que meu corpo está ficando todo ressecado…
Eu não ouvia nada, achava que era esperta e minha mãe enganada com facilidade.
Eu que era enganada e não sabia. Tive oportunidades e não aceitei. Fiz a vontade do mundo e agora estou aqui. Presa no inferno.
Descobri que não à pena satisfazer a vontade da carne e do coração e depois passar a eternidade nesse tormento….
Continua,
Estamos quase no fim...
Beijinhos
Roberta
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